Paternar, a importância de ser e estar presente!

Paternar é exercer a paternidade na prática. É abraçar a missão de cuidar de outro ser humano. Ou de qualquer pessoa a quem você queira chamar de filho ou filha, porque o paternar não exige laços de sangue. Ele exige amor. Amor e tempo.

Quem paterna sabe que cada segundo dedicado à sua cria é uma oportunidade de ensinar e de aprender algo novo. Aliás, a beleza do paternar mora exatamente nessa troca. Nas referências que se renovam, evoluem e formam outros pais cada vez mais conscientes. 

Meu pai, meu anti-herói…

Abaixo compartilho uma experiência que vivi.

“Foram muitos minutos na loja para escolher uma toalha de mesa nova e guardanapos coloridos para receber, em minha casa, uma família querida no almoço de Dia dos Pais. Ao passar os itens pelo caixa, ainda com um pouco de dúvida se minhas escolhas ficariam realmente harmônicas na minha sala, a atendente me diz, quase como um desabafo: “o Dia dos Pais é sempre um dia muito triste pra mim”.

Foi aí que meus pensamentos, que trafegavam entre imagens “instagramáveis” de mesas decorativas com guardanapos de pano, foram imediatamente desfeitos e, como um imã, meu olhar se dirigiu ao olhar – muito bem delineado – de Yasmin. Perguntei, com carinho e real interesse, o motivo da tristeza daquela data e ela me respondeu, com um embargo na voz e com o coração dilacerado (sim, pude sentir seu coração) que o pai havia abandonado ela e a sua mãe, a grande heroína de sua vida.”

Esse é pequeno caso que mostra o quanto é urgente sair da nossa bolha.

Infelizmente hoje, no Brasil, mais de 5,5 milhões de crianças não têm o nome do pai na certidão de nascimento segundo o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), motivo de dor para muitas “Yasmins”, seus familiares e também motivo de sobrecarga para muitas mães.

Por outro lado, a pesquisa “Retrato da Paternidade no Brasil” (2022), encomendada recentemente pelo Grupo Boticário e conduzida pela Grimpa Consultoria de Pesquisa de Mercado e Consumer Insights, reflete mudanças do papel da figura paterna nos últimos anos. 

Apenas 9% dos entrevistados se consideram “pais provedores”, ou seja, que têm como principal responsabilidade garantir o sustento da prole. Entretanto, metade, 50%, consideram-se “pais participativos”, ou seja, aqueles que acompanham o desenvolvimento dos filhos e filhas e sempre estão à disposição.

Segundo pesquisa “Silêncio dos Homens” (2019): “8 em cada 10 homens gostariam de passar mais tempo com os filhos”. O papel de simples provedor do lar, não é mais o suficiente. O homem quer estar lado a lado da família, contribuindo ativamente para o crescimento de filhos e filhas.

Por mais que os pais digam que querem estar mais próximos de seus filhos, na prática isso não ocorre. De acordo com o 3° relatório “Situação da Paternidade no Mundo” (2019), apenas 32% dos trabalhadores brasileiros conseguiram ficar 5 dias em casa no nascimento dos bebês; 27% não tiraram um dia sequer de licença; e quase 60% dos homens brasileiros não acompanharam o nascimento do filho ou filha.

Como fazemos para combater essas desigualdades?

Para combater as desigualdades de gênero, envolver homens nas tarefas do cuidado e colher os resultados positivos desse envolvimento, a licença-paternidade precisa ser revista para uma licença parental universal, que prevê uma licença 100% remunerada de 120 dias a todas as pessoas cuidadoras, independente do formato familiar. 

A intenção da licença parental universal é que pais, mães e figuras parentais tenham direito de ficar em casa cuidando de suas crias por igual período, sem desconto no salário ou necessidade de trabalho – presencial ou remoto.

A licença parental universal (LPU) vem sendo adotada por algumas empresas como Grupo Boticário, Diageo, Gupy, Great Place to Work Brasil (GPTW), entre outras. Algumas companhias optam por licenças de 16 e 14 semanas, como a Rhodia e a Novartis, respectivamente. O benefício é acessível também para casais homoafetivos e em casos de adoção. 

Crescimento sustentável

Se os pais se tornam mais atuantes na criação da prole, compartilhando o cuidado das crianças, no caso das famílias heteronormativas, as mães conseguirão se dedicar mais às suas carreiras. E já se sabe que a maior paridade de gênero no topo das organizações traz maiores resultados de negócio. Segundo a McKinsey, essa prática aumenta em 21% as chances da empresa alcançar uma lucratividade acima da média.

Ao contribuir com o crescimento de outro ser humano, as empresas também crescem. A adoção da LPU (licença parental universal) é uma forma de reter talentos e fortalecer a marca empregadora. 

Yasmin nos relembra das consequências indeléveis que a ausência pode causar: tanto a ausência paterna, quanto a ausência do envolvimento da sua empresa na pauta da parentalidade. Que possamos furar a bolha e iniciar agora mesmo a transformação!

É tempo de Paternar!

E falando em Dia dos Pais, destaco por aqui uma campanha linda que contou com o nosso olhar da consultoria Maternidade nas Empresas em sua execução. O resultado deste trabalho junto ao Grupo Boticário agrega sensibilidade, cuidado e traz o PATERNAR aos nossos dias. Veja só:

“Uma vez, alguém me disse: ‘Existe uma grande diferença entre ser pai e paternar”. Hoje essa frase faz todo sentido pra mim.

Pais que dedicam tempo e presença. Que compartilham tarefas domésticas. Que respeitam a paternidade em suas inúmeras formas e contextos. Que alimentam um ciclo positivo de bons exemplos. 

Quem me ensinou sobre o paternar, sobre a importância de ser e estar, foi protagonista, e não coadjuvante da minha história. 

Este texto foi escrito por:
Luciana Cattony
TEDx Speaker, Sócia Fundadora da consultoria Maternidade nas Empresas e Mestra em Design Estratégico.

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Sobre a Maternidade nas Empresas

Desde 2017, atuamos nas empresas para fortalecer a equidade de gênero pela valorização da parentalidade no universo corporativo. Para aumentar a representatividade feminina, em especial nos cargos de liderança, é preciso criar políticas efetivas de apoio às mães.  

Pelo acolhimento de mães, pais e figuras parentais no universo corporativo, aumentamos o engajamento e a produtividade, contribuímos para criação de um ambiente psicologicamente seguro, em que todas as pessoas se sintam pertencentes, o que favorece a inovação. 

Contribuímos para um olhar mais humanizado da liderança, aumentando a percepção de bem-estar da sua comunidade (interna e externa), contribuindo para uma sociedade mais justa, ética e sustentável. Oferecemos soluções com domínio de metodologias e ferramentas, pesquisa constante e uma boa dose de cuidado e criatividade.